A taxa de complicações graves associadas a bloqueios periféricos é muito baixa, cerca de 0,04%, segundo um estudo francês. A taxa de complicações menores é mais elevada, isto é, cerca de 50% dos doentes submetidos a bloqueio axilar referem pelo menos umas das queixas: equimose (23%), dor no local da punção (40%) e parestesias transitórias (11%).
Injeção epidural, subdural ou subaracnoideia
A distância da pele sobre o sulco interescalénico até ao neuroeixo é muito curta, cerca de 23-35 mm. A administração de anestésico local pode provocar um bloqueio epidural ou espinhal total com necessidade de suporte ventilatório e cardiovascular. Existem algumas medidas que podem evitar estas complicações: usar agulhas mais curtas, imprimir uma direção caudal à agulha, administrar baixos volumes de anestésico e fazê-lo de forma lenta e fraccionada.
Síndrome de Horner
Complicação associada frequentemente à abordagem interescalênica, mas também pode surgir na supraclavicular especialmente se usados volumes elevados de anestésico local. Surge por bloqueio da cadeia simpatico cervicotorácica. Desaparece com o fim de efeito do anestésico local.
Rouquidão
Por bloqueio do nervo laríngeo recurrente. Complicação frequente no bloqueio interescalénico (dose única e contínuo) e em 1,3% no supraclavicular. Evitar em doentes com paralisia da corda vocal contra-lateral.
Hipotensão/bradicardia
Esta complicação surge em 13 a 24% dos doentes com bloqueio interescalénico, acordados e em posição sentada, ocorrendo aos 61+/-18 minutos após instalação do bloqueio. Pensa-se que esteja relacionado com efeitos B1 da adrenalina exógena e ativação do reflexo de Bezold-Jarisch. A incidência destes eventos pode ser prevenida com a administração de metoprolol.
Hemiparesia diafragmática
Complicação muito frequente nos bloqueios acima da clavícula (100% no interescalénico, 50% no supraclavicular). A função pulmonar e diafragmática estão alteradas na abordagem interescalénica e nem sempre nas abordagens mais distais (supraclavicular, infraclavicular medial), pelo que nenhuma destas abordagens está recomendada nos doentes que não tolerem uma redução de 30% da função pulmonar.
Pneumotórax
Complicação frequente (0,5 a 6,1%) na abordagem supraclavicular, cujos sintomas surgem nas 6 a 12h seguintes (em doentes não submetidos a ventilação positiva), menos frequente nas abordagens interescalénica e infraclavicular. A realização precoce de Rx não tem qualquer vantagem. Os doentes geralmente referem dor pleurítica quando da punção da pleura. O diagnóstico é confirmado com Rx torácico em expiração.
Lesão muscular e vascular
As equimoses são muito comuns no bloqueio axilar, mas a dissecção arterial, vaso-espasmo e hematoma são raros. Contudo, devem ser considerados na presença de lesão neurológica pós-operatória.
A miotoxicidade é consequência da infiltração muscular de anestésico local, especialmente bupivacaina.
Lesão neurológica
A lesão neurológica associada aos bloqueios de nervos periféricos é muito baixa (0,04%)e ao bloqueio do plexo braquial, em particular, é também extremamente rara (cerca de 2,4/10 000 doentes). As primeiras manifestações surgem nas primeiras 48h em cerca de 19% dos casos. A maioria desaparece até às 6 semanas, mas podem permanecer até 1 ano em menos de 1%.
A grande maioria dos casos, de lesão neurológica no contexto pós-operatório sob anestesia regional, está relacionada com fatores cirúrgicos: trauma neural direto, posicionamento, trauma por estiramento, compressão (edema, gesso muito apertado, garrote, hematoma). Na ausência de recuperação nos primeiros dias ou disfunção motora ou progressiva é conveniente pedir uma consulta de neurologia e iniciar o estudo da lesão precocemente, pois apesar das anomalias se manifestarem nos exames neurofisiológicos algumas semanas após a lesão, estes permitem estabelecer uma linha base, podem documentar lesão pré-existente ou identificar lesão reversível.
As causas de origem anestésica que possam provocar lesão neurológica ainda são mal compreendidas: parestesias, dor à injeção local e/ou aumento da pressão de injeção como sinal de injeção intraneural (mas, existem casos reportados de injeção intraneural sem dor), utilização de agulhas de bisel longo versus curto, transsecção do nervo com a agulha e neurotoxicidade do anestésico local.
Há ainda que referir algumas práticas que se podem revelar perigosas: realização de bloqueio interescalénico em doentes sob anestesia geral – a administração do anestésico local intramedular e suplementação proximal (cotovelo ou punho) de um bloqueio parcial do plexo braquial (lesão nervos periféricos).
FLAVIO WERNER FERREIRA, MD
Anestesiologia – SAL –